quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

O "Calote na Previdência"

O governo de Bolsonaro e Paulo Guedes já está pronto pra mandar para o Congresso mais um projeto de "Reforma" da Previdência, que deveria ser chamado, na verdade, do Calote da Previdência. Desde Temer, o conluio do mercado se juntou em torno dele (e agora do capitão) com a agenda de reformas do gasto público para reduzir a presença do Estado e querendo, a todo custo, implantar a “Reforma da Previdência”, junto com a PEC do" Fim do Mundo" (teto dos gastos) e a "reforma" trabalhista. As duas últimas já foram aprovadas. Só falta passar a da Previdência, para que os trabalhadores acabem sendo os únicos escolhidos pra pagar o rombo de R$ 160 bilhões existente nas contas públicas que eles NÃO causaram.
Na retórica do mercado e do governo há um sem fim de falácias sobre a questão do déficit público para jogar a conta no colo dos trabalhadores e da sociedade de modo geral.
Inicialmente é bom notar que o déficit público é conjuntural (não estrutural), causado pela diminuição das receitas da União, que são consequência direta da recessão que o país está passando há alguns anos. Houve uma queda de quase 10% na receita de tributos nos últimos anos, o que deverá se recuperar com a retomada do crescimento.
Secundariamente, o déficit público aumenta ainda mais (muito mais) pelos juros Selic altíssimos que o governo ESCOLHEU pagar aos bancos e rentistas para financiar o estoque da dívida pública desde o Plano Real. É a chamada Bolsa-Banqueiro! Só aí são mais de R$ 400 bilhões que saem anualmente dos nossos impostos e do tesouro diretamente para o Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa e seus clientes rentistas. É o governo que paga e decide a taxa de juros que vai pagar. E, incrível e criminalmente, decide pagar para o mercado esses juros altíssimos de R$ 400 bi (o que é muito maior do que o "déficit" da Previdência, que é de R$ 260 bilhões... só que não!).
Secundariamente, que fique claro que o tal “DÉFICIT DA PREVIDÊNCIA” É FICTÍCIO, pois é usada uma formula de cálculo muito tendenciosa no cálculo das receitas previdenciárias e das despesas previdenciárias, na qual incluem as despesas de assistência social, benefícios de prestação continuada e outros direitos sociais que não tem nada a ver com a Previdência (veja a explicação no vídeo da Dra. Fatorelli sobre essa falácia de rombo da Previdência). Sendo que os recursos para pagar esses direitos sociais, criados na Constituição de 1988, deveriam sair do Orçamento Geral da União, e não do orçamento da Previdência.
Além disso, ainda é feita uma desvinculação de parte das receitas da Previdência (de cerca de 20%, que deveriam ser usadas somente nos gastos previdenciários), através da DRU (Desvinculação das Receitas da União) para pagar despesas diversas do governo.

Por outro lado, o governo ainda faz um sem número de desonerações e isenções de impostos e creditícios para as empresas no valor de outros R$ 400 bilhões, a chamada Bolsa-Empresário.
Para piorar o quadro, a dívida de impostos das grandes empresas com o Tesouro Nacional é gigantesca. Só os 500 maiores devedores da União devem cerca de R$ 420 bilhões, que não são cobrados pela Procuradoria da Fazenda, com o beneplácito do governo. Sem contar os valores que não são lançados e são criminalmente sonegados.
Enfim, o assim chamado "Déficit da Previdência" é uma falácia inventada pelos mercadistas (FIESP, Febraban e demais asseclas) que tem nos seus bolsos a grande maioria dos economistas e comentaristas da mídia, que passam o tempo criando o pânico de que o Brasil vai quebrar se não fizer a "reforma" da previdência. E, assim, uma grande mentira se tornou uma verdade. Mas não é! Pois a soma de todas as contribuições destinadas para Seguridade Social, onde se encontra a Previdência Social, supera o valor das despesas com o pagamento dos benefícios previdenciários e ainda gera um superávit ao qual é utilizado de forma inadequada pelo Governo.
Fazer essa reforma É UMA ESCOLHA POLÍTICA e alocativa, de escolher quem é o(s) responsável(is) por cobrir o déficit primário público anual, que atualmente está em torno de R$ 160 bilhões. Pois do lado das grandes empresas temos o Bolsa-Banqueiro (400 bi), o Bolsa-Empresário (400 bi), e os sonegadores (mais 420 bi) que poderiam ser alvos para cobrir o déficit público, ao invés dos trabalhadores que nada fizeram para criar esse déficit, pois estes agentes privados recebem mais de R$ 1,2 trilhões anuais, o que é uma transferência de renda de 20% do PIB nacional para o setor privado (às custas dos impostos que todos pagamos). Mas a escolha, antes do governo Temer, e agora de Bolsonaro-Guedes para pagar essa conta do déficit público primário de R$ 160 bilhões é em cima dos trabalhadores segurados da previdência, tanto do setor privado como dos servidores públicos. Esse é o pacto que o capitão fez com o mercado quando chamou Paulo Guedes e tardiamente aderiu ao liberalismo, para seduzir os mercados, abrindo mão de seu nacionalismo estatizante que tanto preocupava os mercados, e possibilitou o apoio dos mercados ao candidato da extrema-direita.
Aumentar a idade para se aposentar até pode ser justificável diante do envelhecimento da população. Mas daí a dar um calote geral na previdência, quebrar contratos e confiscar direitos adquiridos vai uma distância muito grande. O sistema de capitalização proposto será uma nova fonte de enriquecimento dos bancos (fundos de previdência privados) e das seguradoras, além das já existentes.
E, assim, resolverão o déficit público às custas dos trabalhadores, que não tem nenhuma responsabilidade pelo déficit, completando as “reformas” encomendadas pelo grande capital, a da previdência, a trabalhista e o teto dos gastos. E vão continuar pagando o Bolsa-Banqueiro, o Bolsa-Empresário e sustentando os sonegadores do fisco, sangrando o erário, e colocando mais que R$ 1,2 trilhão anuais nos bolsos do grande capital nacional e internacional. Estes, os verdadeiros responsáveis pelo déficit das contas 

  O Brasil tem condições de ter uma ótima educação pública básica:   No início dos anos 80, o Brasil a Coreia do Sul tinham o PIB per capi...