quinta-feira, 10 de março de 2022

Carta para minha prima da Ucrânia


Olá, muito obrigado pelas notícias. Estou muito aliviado e feliz que nossa prima e sua família estejam deixando a zona de guerra na Ucrânia. Espero que gostem de Israel e façam uma aliá definitiva.

Sobre a guerra, não gosto de falar ou discutir, mas vou falar sobre minhas visões e opiniões sobre o assunto, já que você mencionou. Não quero falar muito sobre essa guerra (sim, a guerra de Putin contra o povo ucraniano). Você é de lá, conhece muito bem a situação, tem opiniões sobre esse tema muito diferentes das minhas. Mas respeito suas opiniões. Então vou falar rápida e superficialmente sobre a guerra. Não pretendo discutir.

Sou contra qualquer guerra, acho que tudo pode ser resolvido pela diplomacia e pela negociação. E a primeira baixa de qualquer guerra é sempre a verdade, como disse Bismarck.

Acompanho as notícias, análises e resenhas em todos os meios ocidentais, brasileiros, americanos, europeus e um pouco da mídia russa e ucraniana também. Eu também faço algumas pesquisas.

Vejo a Ucrânia como uma democracia, que pode ter suas falhas, mas é uma democracia plena. E a democracia não é um sistema perfeito, mas, na minha opinião, é o menos pior dos sistemas de governo. Zelensky pode ser um extremista de direita, mas foi eleito em eleições limpas pela maioria do povo ucraniano (eleições livres reconhecidas por todas as instituições internacionais). Isso deve ser respeitado. Se eles querem que ele seja substituído, isso deve ser feito na próxima eleição, após um processo de conscientização do povo ucraniano.

Tanto a Rússia como a Ucrânia têm pouca experiência com sistemas democráticos. Mas, no momento, apenas a Ucrânia é uma democracia. A Rússia é uma oligarquia corrupta, cujo ditador autocrático é Putin. Sim, ele foi eleito, mas sua eleição é sempre fraudada. A Rússia prende e oprime a oposição a Putin, e a imprensa é censurada, como se sabe.

Os neonazistas existem na Ucrânia, na Rússia e aqui no Brasil também. Não é novo: cossacos, pogroms, Babi Yar e assim por diante. É um problema muito difícil e abjeto. Mas não é com guerras ou ditaduras que esse problema é tratado. É com a lei, a polícia, a justiça e a organização, o ativismo e as manifestações populares.

A Ucrânia não invadiu nenhum país. Não deve ser invadido por um poder externo e punir o povo ucraniano. É muito sofrimento. Putin usa a desculpa de combater o suposto neonazismo de Zelensky e a suposta ameaça da OTAN para colocar em prática seus planos ditatoriais e imperiais (Mãe Rússia). Mas a Ucrânia é um país soberano, e se ela quer fazer parte da OTAN e da UE, o problema é dela. Ele diz que a Ucrânia "não existe", mas foi o Principado de Kiev (capital da Ucrânia) dos século XIII que deu origem à própria Rússia.

Neste momento, aqui no Brasil, também temos um presidente eleito de extrema-direita. Mas eu não gostaria que os EUA invadissem o Brasil para acabar com ele. Acho que cabe ao povo brasileiro ter consciência e votar em outro candidato melhor na próxima eleição. Em 1964, os EUA, junto com a direita brasileira, fizeram isso e colocaram uma ditadura militar de direita assassina no Brasil que durou 25 anos, tudo para impedir que a esquerda tomasse o poder aqui.

O problema de Putin não é a direita na Ucrânia, nem se está se aproximando da OTAN, da UE ou dos EUA. O problema para Putin é ter, ao lado dele, um país que era seu irmão, dando o exemplo de como uma ex-república soviética pode ser totalmente DEMOCRÁTICA, potencialmente rica e voltada para o oeste.

E parece que Putin aproveita a situação para colocar em prática seus planos de retomar o Império Soviético (Russo), e ter a Rússia como potência nuclear hegemônica em um mundo bipolar, novamente.

Lembro-me dos tempos da Guerra Fria e como ela chegou ao fim.

A URSS entrou em colapso em 1991, nada tomou seu lugar. Era impensável que a potência nuclear soviética desaparecesse nas brumas e os EUA reinassem sozinhos no mundo. Durou 31 anos e Putin quer restaurar a polaridade com um novo império com ecos russos, soviéticos ou "putinescos".

Lembro que o processo de implosão da URSS começou quando Gorbachev decidiu ser pragmático, reconhecendo sua incapacidade de enfrentar a alta tecnologia que Reagan (e o Ocidente) queria inserir nos sistemas de guerra americanos (a iniciativa Star Wars).

Gorbachev então negociou o desarmamento e o fim da Guerra Fria com Reagan, e fez a Glassnost e a Perestroika, que desmantelaram o império soviético.

Agora vem Putin que quer reconquistar esse espaço, com a conivência da China, que só pensa em seus interesses comerciais e financeiros. Putin gasta 20% do dinheiro do povo russo no exército e armamentos, dinheiro que ele tira de escolas e hospitais. Isso não é sustentável a longo prazo, a economia russa não suportará essa sobrecarga por muito tempo e sucumbirá, como fez a antiga URSS.

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